Acabo de voltar de uma
palestra com o professor
Bennett Goldberg sobre metodologias ativas de ensino-aprendizagem. Fiquei sabendo deste evento graças ao meu amigo e professor da PUC-PR Everaldo Gomes.
O título da palestra foi Inversão de Sala de Aula (Flipped Classroom). Ouvi falar pela primeira vez de Inversão em Sala de Aula ainda quando estava na NC State University. A palestrante de um dos cursos que fiz me falou que alguns professores de lá estavam utilizando e gostando deste método. O livro talvez mais famoso sobre o tema é
Flip Your Classroom de Jonathan Bergmann.
A palestra do professor Goldberg foi além da Inversão de Sala de Aula. O título em inglês foi "A Participatory Society Through Active Learning". Abaixo alguns dos pontos discutidos e comentários.
Em primeiro lugar ele listou (e comentou) os argumentos para Aprendizagem Ativa:
- Trabalho em equipe (teamwork)
- Pensamento crítico (critical thinking)
- Mentes inquisidoras (inquiring minds)
- Conflito produtivo (productive conflict)
- Ação social (social action)
Ele mencionou o trabalho do amigo dele
Derek Bruff (Vanderbilt University Center for Teaching) ao falar sobre a necessidade de reconsiderar o uso do tempo em sala de aula. A ideia é que devemos deixar este costume de usar o tempo em sala de aula principalmente para "palestras" do professor e usá-lo mais para atividades dos alunos. Para isso, os alunos terão que fazer algumas atividades antes da aula. Que atividades? Leitura de textos, resolução de questionários, assistir vídeos, entre outras.
Segundo Goldberg, o ponto principal nem é apenas tecnologia. Mesas circulares e cadeiras com rodas (para movimentação) foram, segundo ele, as melhores tecnologias para ele implementar Aprendizagem Ativa.
Um detalhe bem curioso: depois que ele passou a adotar Aprendizagem Ativa (como professor da Universidade de Boston) a avaliação dele como professor piorou. Isto é, os alunos agora o consideram um professor pior do que antes, quando apenas ministrava aulas. Mas ele tem dados que mostram que hoje em dia os alunos aprendem bem mais do que antes.
Uma palestra chata em vídeo é ainda pior do que uma palestra chata presencialmente. Não se deve achar que Inversão de Sala de Aula é apenas gravar as aulas em vídeo. E ele comentou que os vídeos não podem ser muito longos. Devem ter duração aproximada de 6 minutos. Quanto mais longo o vídeo, menos os alunos assistem.
O professor deve fazer os alunos expressarem o conhecem do tema que irão estudar antes de fato estudarem (
state prior knowledge).
Algumas estratégias foram discutidas para assegurar que os alunos façam as atividades antes da aula. Exemplos: questionário online para ser feito antes da aula,
one minute paper no começo da aula. Todas estas atividades devem valer nota. Segundo ele, os estudantes são criaturas de hábitos e a maioria destes (maus) hábitos precisam ser quebrados.
Goldberg e o professor
Eric Mazur (que vai falar amanhã e acaba de ter seu
livro traduzido para o Português) criaram MOOC grátis que fala sobre Aprendizagem Ativa:
An Introduction to Evidence-Based Undergraduate STEM Teaching.
A palestra terminou com exemplos de Aprendizagem Ativa. O primeiro exemplo foi o Studio do professor Goldberg na Boston University, que ele usa para lecionar Introdução a Física. Interessante ver como uma turma com 81 alunos consegue conviver numa mesma sala. Claro que a sala é especial; ela foi projetada pelo próprio professor. Ela tem 27 espaços para escrita (quadros digitais) e mesas para 3 alunos. Ele precisou de 9 anos para convencer sua uiversidade a construir a sala. Depois disso, convidou cada um dos colegas professores de seu departamento e vários administradores da universidade para participarem de uma aula. Ele disse que até hoje é difícil convencer os colegas da efetividade da Aprendizagem Ativa, por mais que as pesquisas indiquem que é eficaz.
Outro exemplo de Aprendizagem Ativa foi um curso de
Wayne Lamorte na Escola de Saúde Pública da Boston University. O terceiro foi um curso de Design em Engenharia da
Gerry Fine. Segundo ele, é um curso baseado em projetos. O último exemplo foram as aulas de Física de Eric Mazur (saberemos mais amanhã).
Aberto o espaço para questões, uma questão que me chamou a atenção foi a do professor Alessandro, da Universidade Positivo. Ele disse que tem tentado usar Inversão de Sala de Aula mas os alunos resistem. Segundo Goldberg, isto é comum e por esta razão todos os anos ele mesmo pede para os alunos responderem:
- Qual é sua expectativa em relação ao curso (que eles já sabem será com Aprendizagem Ativa)?
- Qual sua experiência anterior com Aprendizagem Ativa?
- Com o que você está mais preocupado?
A partir das respostas dos alunos, na primeira aula ele aborda cada uma das preocupações dos alunos.
Goldberg disse que no começo sempre é difícil. Ou seja, quando se adota Aprendizagem Ativa, muitas dificuldades surgirão e a mudança exige energia extra. Ele sugere começar aos poucos mudando (isto é, tornando suas aulas mais ativas) apenas aquilo que seja mais empolgante para você.
Fotos profissionais
aqui. Abaixo algumas fotos minhas da palestra: