Até aí tudo bem.
O que me preocupou foi a informação passada no tweet abaixo:
Carmen Lúcia e sua primeira decisão depois de eleita. Será "presidente Cármen Lúcia". "Eu fui estudante e sou amante da Língua Portuguesa".— JOTA (@JotaInfo) August 10, 2016
Vamos construir um argumento a partir do que eu entendi (posso estar errado). Vou usar as siglas CL para representar Carmen Lúcia, LP para representar Língua Portuguesa. E vou usar o símbolo "∴" para indicar conclusões. As demais frases são premissas. Supus os trechos em itálico a partir do tweet.
O argumento então seria:
1. CL é presidente do STF.
2. CL quer ser chamada de "presidente¨ .
3. CL é estudante da LP.
4. CL é amante da LP.
5. ∴ CL conhece as regras da LP.
6. De acordo com as regras da LP, as mesmas regras que valem para as palavras "estudante" e "amante", valem para a palavra "presidente".
7. ∴ CL acha que o correto é presidente e que "presidenta" é errado.
As premissas (1) e (2) são verdadeiras. Na verdade (1) será verdadeira a partir de 12 de setembro de 2016 até 2018. Mas vamos considerar que estamos em 13 de setembro de 2016.
Se (1) é verdadeiro, CL tem todo o direito de (2), isto é, de querer ser chamada de "presidente". Vamos supor que (3) e (4) sejam verdade também. Mas não dá para concordar que a partir de (3) e (4) se conclua (5). Uma pessoa pode estudar e amar um assunto e ainda assim não conhecê-lo. É o que parece acontecer aqui.
Vários especialistas da Língua Portuguesa já se posicionaram dizendo que as formas "presidente" e "presidenta" são igualmente válidas. Encontra-se a palavra "presidenta" em vários textos do passado e até em dicionários do século XX.
Logo, a conclusão (5) é falsa. A premissa (6) também é falsa e nem depende de (5). E a conclusão é falsa também, principalmente pelo que se lê neste link.
Mas nem é isto que me preocupa.
O que me preocupa é que a ministra aparentemente usou argumentos de um texto falsamente atribuído a uma professora da UFPR para construir seu argumento. Claro que isto é minha suposição. Ela pode ter se enganado por conta própria.
Outros textos sobre o tema são este e este.
Só podemos aceitar as conclusões de um argumento se aceitarmos suas premissas. No caso de Carmen Lúcia, como algumas de suas premissas são falsas, a sua conclusão implícita de que "o termo "presidenta" é errado" é falsa.
Mas o mais importante é que ela deve ser chamada da forma que quiser. Não vamos fazer como certos órgãos da imprensa brasileira que chamavam Dilma de "presidente" provavelmente apenas por ele ter expresso que queria ser chamada de "presidenta".
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