quinta-feira, 11 de abril de 2013

Mais sobre a Avaliação da Pesquisa no Brasil

Somente hoje vi que o texto "Um novo modelo de avaliação dos programas de pós-graduação a ser enviado à CAPES", do professor Otavio Carpinteiro (UNIFEI), foi publicado no Jornal da Ciência em 13/03/2013. Este texto está relacionado a um post anterior deste blog: Sobre a Avaliação (errada?) da Pesquisa no Brasil.

O professor Luis Paulo Vieira Braga (UFRJ) comentou o texto do professor Otavio em CAPES: Avaliação ou Afiliação?. Alguns trechos:

Como a avaliação é essencialmente baseada na produção absoluta de artigos no topo da escala Qualis, o sistema apenas renova as notas elevadas dos mesmos cursos consolidados, deixando na rabeira os grupos menores ou novos. 

Os dados apontam sucesso no número de artigos, mas quando se trata de citações, patentes, prêmios e descobertas relevantes a contribuição brasileira deixa a desejar.

Eu acho que o nosso sistema de avaliação da pós-graduação está errado e precisa ser rediscutido. E você, o que acha?

terça-feira, 2 de abril de 2013

Sobre a Avaliação (errada?) da Pesquisa no Brasil

Repasso abaixo mensagem do professor Otavio Carpinteiro (UNIFEI) divulgada nos grupos Bolsa Produtividade (link direto aqui, para membros do grupo) e  Computação Brasil (link direto aqui). Os destaques são meus.


     
Caros colegas,

cheguei ontem aa noite da reuniao da Capes. Nosso
comite de area convidou um frances, um alemao e
dois americanos para ouvirem os coordenadores dos
programas 5, 6 e 7 falarem dos seus numeros e para
fazer uma analise e dar parecer.

seguem umas frases dos estrangeiros (as que estao
em ingles sao tal qual falaram):

- Hans-Ulrich Heiss (TU-Berlin):
- na Alemanha os professores tem uma carga alta de ensino de 9
hs/semana
(alta? ...)

- John Hopcroft (Cornell University):
- USA universities focus on quality and not quantity
- USA universities focus on excelence in quality of research
- USA universities focus on excelence in teaching
- Brazilian universities spend too much time on counting numbers and
not on doing research

- you get what you measure: if you focus on the number of papers you
end up doing that

- nos EUA nao ha' avaliacoes externas das universidades. Cada
universidade faz a sua
- nos USA ha' 200 instituicoes de alta qualidade em ciencia da computacao
- perguntado sobre o indice H: "I would laugh at H-index!"

- Eli Upfal (Brown University):
- nos EUA ha' uma alta interacao universidade-empresa
- nao importa a quantidade de doutores formados, mas sim a qualidade
deles!

- comparou o tamanho de Berkeley com Princeton e disse que Berkeley
tem muito mais professores, muito mais alunos de doutorado e forma muito mais PhDs. Apesar disto, tanto Berkeley quanto Princeton sao "high-standard universities".

para contestar o que o John Hopcroft falou, o Jorge Guimaraes disse
que o Brasil possui um dos melhores sistemas bancarios do mundo.
Um sujeito pode depositar um dinheiro no Amazonas e outro pode
retira-lo imediatamente no Rio Grande do Sul. Disse tambem que o
Brasil possui um sistema excelente de votacao digital. Poucas horas
apos o encerramento das eleicoes ja' sabemos o resultado! Disse que
viu umrusso votando (acho que na TV) e falou do tamanho do papel
onde o russo escreveria seu voto. Era um pedaco de papel "deste
tamanho"! Concluiu com algumas outras observacoes tao importantes
e focadas no tema quanto estas acima.

depois disso, tanto ele quanto o Livio Amaral deixaram o auditorio.

vi caras feias de alguns professores a respeito dos comentarios
dos americanos. Um dos professores disse que foi com este esquema
de avaliacao que o Brasil cresceu sua pos-graduacao e o nivel das
publicacoes!

ja' eu obviamente nao resisti e comecei minha fala com estas
palavras: I am delighted with your comments. Dei-lhes os parabens
e falei que o foco tem de ser, de fato, sobre a competencia e nao
sobre numeros
. Falei sobre a relacao produtividade/recursos e
outras poucas coisas mais que ja' nao lembro.

no dia seguinte, na reuniao com o Livio Amaral, levantei o ponto
do Eli Upfal na comparacao que fez entre Berkeley e Princeton.
Repeti-lhe o que disse o Eli a respeito dos numeros de ambas,
ou seja, que o numero de doutores formados por Berkeley, a
quantidade de projetos de pesquisa de Berkeley e a quantidade
de papers de Berkeley e' bem superior aa de Princeton. Disse
entao que seria interessante imaginarmos a Capes se mudando
para os EUA: na primeira avaliacao da Capes, ela avaliaria
Berkeley no nivel 7 e Princeton no nivel 3. Alem disso, claro,
descredenciaria o doutorado de Princeton. Sabem o que ele
respondeu? Nao respondeu nada. Disse apenas que era dificil
mensurar qualidade de um programa e que esta talvez pudesse
ser mensurada pelo nivel de internacionalizacao do programa ...

aproveitei para falar do novo modelo de avaliacao, de que
talvez em maio estejamos fazendo uma mesa-redonda em
BH e que iriamos convida-lo. Convidei meus colegas tambem.
Creio que seria bom, Armando, marcar a data com um bom
prazo e por na mesa-redonda coisas ligadas aa pos-graduacao
para que os coordenadores de pos possam ir usando o Proap.

em suma, creio que a Capes e nos estamos falando em linguas
distintas. Eles falam em chines, aas vezes em arabe e outras
em grego arcaico. Eu nao sei onde isto vai dar e o tamanho
do estrago que havera' na pos-graduacao. Por outro lado, ja'
comeco a perceber mais vozes discordantes da Capes dentre
meus colegas. Mas ainda sao poucos ...


Otavio Augusto S. Carpinteiro, D.Phil.
Research Group on Systems and Computer Engineering
Federal University of Itajuba
Av. BPS, 1303, Itajuba, MG, 37500-903, Brazil
Phone: +55 (35) 3629-1325
Fax: +55 (35) 3629-1447
E-mails: otavio.carpinteiro 'em' gmail.com;
otavio 'em' unifei.edu.br
H-Page: http://www.gpesc.unifei.edu.br/membros/otavio.html