quinta-feira, 14 de março de 2013

Silvio Meira na UTFPR em 2010

Silvio Meira (UFPE, CESAR) esteve na UTFPR em 2010. Mais detalhes aqui. Um trecho em vídeo abaixo.



Meus alunos fizeram uma transcrição do que ele falou  naquela palestra.
Leia abaixo:

Mestre de Cerimônia: "A palestra que será proferida nesta aula inaugural do Mestrado Profissional em Computação Aplicada terá como título "O Mestrado profissional no contexto do desenvolvimento tecnológico e inovação" e será proferida pelo professor doutor Silvio Meira.
O professor doutor Silvio Meira é professor do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco, presidente do Conselho de Administração do Porto Digital, cronista do Terra Magazine, comentarista da rádio CBN e consultor de políticas estratégicas de informação, informática e inovação. Autor de mais de 200 artigos em congressos e revistas acadêmicas, e de centenas de textos sobre tecnologia de informação e seu impacto na sociedade publicados na imprensa leiga e de tecnologias da informação.
O professor Meira já supervisionou mais de 90 teses e dissertações de mestrado e doutorado. O professor Meira detém as Ordens Nacionais do Mérito Científico e Rio Branco e a Medalha do Conhecimento do MDIC. Em 2006 recebeu do Governo de Pernambuco a mais alta comenda do estado: a Ordem do Mérito dos Guararapes."

Mestre de Cerimônia: "Em 2005, a Info o elegeu como um dos três mais importantes evangelistas de tecnologias da informação do Brasil. Em 2007, a Época o elegeu um dos cem brasileiros mais influentes. Em 2009 e 2010, foi uma das entrevistas do Pensamento Nacional da HSM Management. Todo os anos Silvio Meira interage com dezenas de milhares de pessoas ao vivo através do Twitter, do seu blog e da CBN, conectando ideias, instituições, reflexões, pessoas, estratégias, conhecimento, negócios, emoções e oportunidades de inovação. Silvio Meira é engenheiro eletrônico pelo ITA, mestre em informática pela Universidade Federal de Pernambuco e é PHD em Computação pela University of Kent at Canterbury (Inglaterra). Senhoras e senhores, temos a honrra de convidar para sua palestra, o professor doutor Silvio Meira."
Silvio Meira: "Obrigado a todos e a todas, obrigado ao antigo Cefet-PR que me chamou aqui, eu quero começar dizendo... Talvez eu devesse tirar o boné, porque o Schiefler esta de paletó... talvez eu devesse estar sem boné, mas como talvez esta seja a minha veste, é evidente que eu vou ficar de boné mesmo.
Isso é uma ocasião ao mesmo tempo formal e informal, para mim é um grande prazer estar aqui, esta instituição para mim é lendária, é uma instituição centenária, é uma das coisas mais interessantes, mais brilhantes, mais continuamente brilhantes..."

[...] que foram feitas, estão sendo feitas e vão continuar a ser feitas no sistema educacional brasileiro. É quase um milagre num país onde as instituições demoram tão pouco tempo a começar a se degradar ou a se degenerar, que a gente consiga manter o pique, a alma principalmente, os valores de uma instituição durante tanto tempo e as pessoas continuem perseguindo objetivos e ideais cada vez mais altos e mais completos.
O meu papel aqui é talvez compartilhar com vocês os meus erros, os erros do meu pessoal, tentando fazer o que nós estamos tentando fazer a algum tempo, e principalmente as minhas dúvidas. Esse currículo que foi lido meu aqui, vez por outra eu ouço alguém lendo ele e fico perguntando "Quem é esse cara mesmo? Que foi que ele fez pra ter esse negócio?"
Eu tenho uma vaga memória do passado, eu nunca olho pro passado como um lugar a partir do qual eu tenho que me impor ou que sugerir pro o mundo que eu sou aquele passado, para continuar sendo um certo presente e almejando um certo conjunto de possíveis futuros. Por mais história que a gente tenha, e a UTFPR tem muita, o que eu acho que a gente tem que olhar, é pro futuro. Nós vamos viver todo o resto da nossa vida lá. A gente por ter sido o que a gente foi no passado. Eu estava, antes de vir para cá, com colegas meus de décadas - ex-alunos do ITA, da minha turma - compartilhando as nossas memórias de 30, quase 40 anos atrás.
A gente ri muito com isso, mas isso não move nenhum moinho, não paga nenhuma conta, e no[...]

A gente tem que criar coisas pra resolver problemas, pra ter direito ao espaço/tempo das pessoas. E como empresas, ou como profissionais de tecnologia, que somos quase todos nós aqui, termos algum crédito para fazer algo.
De mais de uma forma, quando a gente olha a pra história, a gente, às vezes pensa que a história nos garante o futuro. Eu aprendi, na minha vida inteira, a entender que não; o futuro vem do futuro, o futuro vem dos planos que a gente faz. Toda vez que a gente olha, a partir do presente, para trás, para o passado, a gente consegue escrever o que se chama história teleológica: uma história linear de tudo o que aconteceu pra gente vir até aqui, pra gente chegar onde a gente está. Então cada um de vocês, a UTFPR, qualquer instituição, seja ela qual for, qualquer pessoa, qualquer família, consegue contar uma história linear do passado. Como é que eu estou nesse batente da escadaria da vida, dos negócios, das empresas, nas instituições, na própria sociedade, nesse momento. Mas, na verdade, nunca foi isso o que aconteceu *verificar*. A cada batente que nós estamos no presente, se desenham múltiplas escadas abstratas, virtuais, que vem do futuro, apontando pra gente no presente. Algumas são conversas de mesa de bar: “Por que que (sic) a gente não faz isso?”; outras são planos mesmo: desenha-se um futuro possível, coordena-se uma quantidade de esforços, seja de pessoas, de capitais (sic), de instituições, de contextos, de apoios, e a gente saltar*verificar*, quando um número suficientemente grande de forças que se articulem e salta de um batente para

... pra um possivel futuro, aquele futuro vira presente, é essa construcao permanente do futuro vir do futuro, é o que mantem as instituições vivas, é o que mantem as pessoas vivas. De mais de uma forma, eu podia me sentar em cima do meu curriculo, sento aqui, eu tenho duzentos e tantos "papers" publicados, vi que esta desatualizado, eu ja aumentei em mais de cem teses de mestrado e doutorado, publiquei mais de duzentos e vinte "papers", eu sento aqui e bom, eu não preciso fazer mais nada; mas aí eu viro aquele velinho chato que chega aqui e acha que inventou a rotacao do planeta Terra, chego pra vocês aqui e: "olha quando eu nasci, esse negócio não girava não, fui eu que botei uma forcinha e começou a girar, e quem ta me atrapalhando é esse terremoto do Chile, esse vulcão da Islandia", como eu vejo um bocado de velinhos malucos que me deram aula na época em que eu era aluno da graduação, que acham que inventaram o mundo, que acham que a *palavra que nao entendi* que eles fizeram foi a mais importante; e vocês tão começando um mestrado profissional, não só a instituição está começando um mestrado profissional, mas muitos de vocês que estão aqui, levantem a mão quem está começando um mestrado aí, muitos que estão aqui estao começando um mestrado mesmo vocês, e vocês tão começando a história, o tempo todo, todo dia, agente ta começando a história; a história que passou, que é o tal do passado né, e ela é relevante, ela é muito relevante, e ela diz basicamente o seguinte a uma instituicao como o UTFPR, como o CESAR, como a Federal de Pernambuco, onde sou professor no departamento de, hmm, centro de informática, departamento de informação e sistemas; a história diz basicamente que agente tem credito pra errar, mais nada, mais nada, e só o que a história diz; não diz que agente vai acertar, não diz que agente tem direitos diferentes das outras pessoas, não diz que agente tem um lugar ao sol...

..."A história só diz, beleza, como você já citou algumas vezes, apesar de ter errado muitas você tem crédito, não é o direito, você tem crédito para errar, porque de resto todo mundo devia ter. Crédito assim como as crianças pequenas tem, ta engatinhando levanta cai, levanta cai, levanta cai, e a gente fica ali ajudando diz, bom um dia ele aprende, é isso que acontece com as instituições quando elas são jovens. E o maior medo que eu sempre tive a minha vida inteira e toda a dinâmica dos meus movimentos nas instituições onde eu participei, tem sido a dinâmica de evitar a história como consumação do futuro, eu já fiz então não preciso fazer mais. Nós somos uma instituição de tecnologia, de mais de cem anos, talvez fosse interessante a gente ver quanto tempo tem tecnologia na história da humanidade, está olhando um pouquinho para o passado, o Pierre Levi ele diz que a humanidade é construída através de abstrações ou virtualizações, uma dessas três virtualizações essenciais, que Levi o filósofo diz, das quais, a humanidade é construída é a técnica. A técnica ao abstrair as ações, cria os artefatos e as tecnologias e a engenharia cria os projetos e a partir da ideia, por exemplo, de movimento. O movimento ao ser abstraído, cria todas a noções de roda, de motor, de potencia, de pista, de velocidade, de freio, de arrasto, que dão para a gente industrias inteiras. As outras duas virtualizações de Levi são a linguagem abstraindo o presente e criando o tempo, e ai eu consigo falar"...

[...] o passado e fazer planos pro futuro, e os contratos, abstraindo a violência e criando oque a gente chama de sociedade, então contratos, técnicas e linguagem são as raízes fundamentais da humanidade, não são o fato de a gente pensar por exemplo, não são o fato de a gente andar sobre duas patas, muito menos o fato de a gente vestir roupa, ou a gente se cumprimentar ou qualquer coisa, não existe humanidade, aspas, de golfinhos, eles se comunicam, mas eles não tem linguagem, não existe a história da sociedade golfinica mundial, tão pouco eles fazem planos, do tipo, olha, amanhã, perto de paranaguá vamos juntar todo mundo porque vai passar um mega cardume de sardinha, lá. Não existe isso, se comunicar, não significa contar histórias, nem fazer planos, nem viver o presente. Esse presente que nós estamos vivendo agora, nessa acepção de Levi, é um ponto muito estreito da nossa linha de tempo, ele se vai a cada segundo que passa, cada tique do relógio, lá se foi o presente do passado, então não adianta muito a gente ficar falando de passado, a gente tem que olhar o tempo todo para o que que a gente vai fazer no futuro, que é o que vocês estão fazendo aqui agora, mas, saindo dessa construção da humanidade de Levi e indo para uma palestra em paper, famosisímo de "''C. P. Snow''" na década de cinquenta, chamado de "''The Two Cultures''", ou, "As Duas Culturas", que eu alargo para três, "''C. P. Snow''" dizia basicamente o seguinte, que existem, e ai a minha tradução dele com uma cultura a mais, existem três culturas, no mundo[...]

A cultura da ciência, que busca a verdade. Eu quero descobrir porque que as coisas funcionam, porque que elas são como elas são, porque que não serviu de outro jeito. Ai vai a teoria das cordas pra explicar o universo e tudo mais. Existem as artes e as humanidades, que são guiadas pela estética, então, a noção de mundo que eu persigo, que eu tento descobrir, rever e escrever é do belo, então, a arte guiada pelo belo é indiscutível sempre, porque o belo é belo nos olhos de cada um. Existem as técnicas, ou a tecnologia, que em uma posição a todas as outras é o domínio da possibilidade. Ciência busca a verdade; artes e humanidades, guiadas pela estética, buscam o belo e tecnologia busca a possibilidade. Literalmente! Se da pra fazer, faremos! Esse é o nome do nosso jogo na universidade técnica. E por que esse é o nome do nosso jogo numa universidade técnica, ou tecnológica, ou dos centros de tecnologia, ou do meu centro de informática, ou do C.E.S.A.R? Vamos pegar um exemplo básico: a dor de cabeça. Todo mundo aqui já teve dor de cabeça pelo menos uma vez, quem nunca teve? Hmm... então eu sou um conjunto de um, eu nunca tive dor de cabeça, não sei nem o que que é, mas todos vocês tiveram, vocês sabem o que é dor de cabeça. O que a gente usa para curar dor de cabeça? A gente usa ácido acetilsalicílico, certo? E invenções mais modernas: Tylenol, Paracetanol e outras coisas. Mas originalmente é ácido acetilsalicílico. Como é que funciona a tecnologia disso? Em Hipócrates ta lá: faça infusão da casca de salgueiro, deixe esfriar um pouquinho, e tome, que você vai baixar a febre e vai curar a dor de cabeça.

(...) livro primeiro e fundamental da história da medicina e até hoje juramento de todos os médicos. O juramento dele, e está lá junto do juramento dele, como é que a gente cura dor de cabeça. Assim você sai de Hipócrates e vai até 1875, aproximadamente, e se descobre independentemente em vários países da Europa que o princípio ativo da casca do salgueiro é o ácido salicílico, ao qual você mistura acetil para fazer o ácido acetilsalicílico para dar estabilidade. Então este é um princípio ativo. Aí cria-se uma mega indústria mundial, a Bayer, para vender comprimidos desse negócio, mistura com maisena para ficar mais fácil das pessoas tomares, e aí bota na boca. Porque como pó é intomável. Alguém aqui já lambeu um AAS? É a coisa mais "inlambível" que existe, o negócio mais amargo do mundo. Deve ser mais amargo do que fel. Alguém deveria ser condenado a ir para o inferno, e daí lá este castigo em particular seria lamber dois AAS por dia. Mas tá lá, você descobre, mistura com maisena e as pessoas tomam. E as pessoas tomam, e ficam boas de febre, dor de cabeça e ninguém sabe como funciona! Isto é tecnologia. Você sabe que funciona. Você melhora, aumenta a pureza, melhora os processos de síntese do AAS, você encaixota melhor, você põe sílica em gel por dentro para não envelhecer, você empacota melhor, melhora as pressões, você descobre outras coisas para que serve - para pacientes cardíacos, por exemplo. E vai, vai, vai. E até aí ninguém sabe como funciona. Isto é tecnologia. Em 1835 um conjunto de médicos ingleses e americanos descobre como funciona: Ácido acetilsalicílico trava os receptores de dor no cérebro. Por isso que funciona. Esses caras ganham o prêmio nobel de medicina - isto é ciência. Até então era tecnologia. Eles ganham o prêmio nobel de medicina. Se a gente esperar...

...Até descobrir como funcionava exatamente, - é claro que, o tempo todo, a gente sabe que funciona e desconfia dos mecanismos, - teriam existido cerca de 3 mil anos a mais de dor de cabeça na humanidade. Multiplique isso pelo número de horas de dor de cabeça e imagine o número de guerras, assassinatos, casamentos terminados e maridos assassinados que teriam ocorrido na história da humanidade.
Tecnologia é o domínio da possibilidade. A gente faz porque é possível fazer. Nós estamos no núcleo de informática, certo? Quantos de vocês aqui já provaram a “corretude” de um programa? Quem já provou? Levanta a mão. Ninguém provou. Então em tese, científica pelo menos, nenhum programa poderia estar rodando: não tem prova de correção.
Algum dia, as Nações Unidas vão criar um órgão, validador mundial de programas que vai exigir: “Só aceitamos programas pra rodar nesses computadores aqui, que vamos passar a validar no mundo inteiro, se a prova de correção existir.” Isso não é razoável, certo? Porque nós não estamos interessados no funcionamento absoluto, correto das tecnologias ao nosso redor. Nós estamos interessados que elas melhorem algo que existia antes. Existe muita gente que fala: “Ah, os computadores são um inferno. Travam o tempo todo!”. Bem, tente fazer uma inversão de matrizes de 1 milhão por 1 milhão, sem computadores. Tente fazer, uma coisa mais simples, como a gestão do sistema financeiro brasileiro, sem computadores. Ou um motor Flex, sem computadores. Motor Flex é software. Não me consta que alguém haja provado a correção dele...

Um carro topo de linha, hoje, nesse domínio das possibilidades, segundo um paper (nota dos transcitores: ver também este paper) há uns 2 ou 3 meses, não, um pouco mais, 4 ou 5 meses atrás publicado por Manfred Broy, que é um dos principais pesquisadores de especificações formais e corretude de software do mundo, o Broy diz que um carro topo de linha, como um BMW 750 ou um Mercedes Benz Classe S tem, dependendo da versão do carro, de 10 a 100 milhões de linhas de código rodando, no carro, 10 a 100 milhões de linhas de código rodando, e alguma coisa entre 50 a 150 computadores em rede dentro do carro enquanto se está dirigindo ele. A gente deveria ou não ficar assustado com isso e pedir para dirigir para dirigir um Ford 29, não tem nenhum computador e que se dá partida à manivela? Voce deveria ou não devia ficar apavorado? Não. Tecnologia é o domínio da possibilidade e da responsabilidade, porque possibilidade implica em risco, possibilidade vem de poder, pode acontecer,pode fazer, pode isso, pode um bocado de coisas,mas quando a gente tem poder, a gente assume riscos. Uma parte do que vocês vão aprender o tempo todo numa pós-graduação que tem a ver informática e software e sistemas de informação: hardware, software, gente (gente faz parte dos sistemas) envolve riscos. E como que a gente assume riscos, como que a gente salva a guarda do interesse da sociedade, como é que a gente age eticamente para resolver problemas, e tem as mais variadas facetas da ética que você quiser, e os mais correspondentes e variados níveis de responsabilidade, eu posso sentar…

... e por exemplo perder a maior parte das aulas, dos exercícios, e fazer irresponsavelmente a minha tese, ou a minha dissertação de mestrado e ainda assim chegar no fim com um diploma. É sabido que isso acontece nos ambientes acadêmicos, e é sabido também que nós professores não conseguimos filtrar todo mundo, nós não conseguimos pegar todo mundo, né? Nós não conseguimos pegar todo mundo de jeito nenhum. Tem gente em vários sistemas, sai do outro lado e diz: "ó, eu tenho mestrado profissional no SESI, na UTFPR, em qualquer lugar, eu tenho doutorados em alguns lugares." Aí voce conversa com o cara e diz: "putz, como é que esse cara tem um doutorado? Deve ter tirado um doutorado na Universidade Federal de Itabuna"; que é a cidade que eu nasci no interior da Bahia, que nem ginásio tem. Mas o cara tá lá, com um doutorado na sua frente, dizendo que tirou ... só que ele não prestou muita atenção no que estava acontecendo enquanto ele estava fazendo um doutorado em tecnologia. Que ao contrário de um doutorado ou um mestrado em ciência, que não existe MSC profissional, né? Existe MSC amador ((Master of Science),que é um negócio que você faz, que você ama aquela área, porque você vai lá e quer descobrir como é que você muda o Estado da Arte. O estado da Arte é diferente do Estado da Prática. O Estado da Prática significa que um humano é o nosso cliente. Se você escrever uma dissertação dizendo que existe um novo método para desenvolver software, onde vocês melhoram 20% da qualidade, diminuindo em 20% o custo do desenvolvimento, 'vai' ter empresas que vão querer usá-lo, 'vai' ter. E as vezes a gente descobre, a custo próprio e alto, a diferença entre a realidade e a ficção das nossas teses e dos nossos estudos. E como eu tenho tempo de estrada, como mostra aquele curriculum que foi lido aqui, deixa eu contar uma histórinha pra vocês...

...sobre a diferença de ciência e tecnologia entre problemas na realidade objetiva ao nosso redor e desejos nos artigos que nós escrevemos. Eu ajudei com várias pessoas em Recife a formar um Centro de Estudos de Sistemas Avançados do Recife, esse é um centro de inovação em e com tecnologia de informação, cujo objetivo é atrair problemas da economia da sociedade pra perto da Universidade, ou seja, ao redor de 1993, a gente reconheceu que a distância era muito grande, a Universidade falava uma linguagem, a economia falava outra completamente diferente, a gente precisava colocar um “treco” no meio que falasse com os dois, então a gente tinha que ter flexibilidade pra falar com Universidade e flexibilidade pra falar com a economia, a gente resolveu que uma forma interessante de trazer uma mais pra perto de outra, era pegar problemas reais da economia e tentar resolver com essa instituição que mediava essa coisa. Muito bem, então eu já era professor titular de Engenharia de Software na época, eu já formava um “bocado” de gente, e o grupo inicial de Engenharia de Software do CESA, umas 8 ou 10 pessoas, todas com mestrado foram formadas por mim mesmo e foram pra lá, um dia, um subcomitê dessa galera chega na minha sala e disse: “Professor, o senhor é professor de placa e Engenharia de Software não é?” , quando você é professor e um aluno faz uma pergunta dessa pra você, você pode ter certeza que aí tem “merda”, vai sobrar pra você, ta? Então me fazem essa pergunta e eu digo: “Claro”; “Então foi o senhor que inventou a gente não foi?” “Claro”, aí eu comecei a ficar realmente preocupado, “Pois é a gente pego um programa que a gente não sabe resolve”, aí eu disse, bom aqui ta uma grande oportunidade...

[...] vamo lá que eu vou ajudar essa galera a resolver. Como não tinha ninguém mais senior por perto, eu virei arquiteto de software de um sistema que acabou, quando tava rodando, não quando tava pronto, quando tava rodando, tinha um milhão de linhas de código. Isso em 1997. Era, não só o maior sistema que eu já tinha feito (até então eu fazia essas gambiarras universitárias que a gente roda pra demonstrar nas nossas teses e papers e que se tudo correr bem ninguém vai usar (risadas), veja bem, nenhum dos papers, tudo validado nos melhores ambientes acadêmicos, claro, não tô dizendo que os papers eram ruins, nem que a comunidade foi enganada... mas era tudo acadêmico. Era science. Era ciência.) E agora não, tinha um mega orgão governamental que tava pagando alguns milhões de reais pra ver um problema de grande porte sendo resolvido, e dentro desse um milhão de linhas de código iam rodar 400 milhões de reais. Ou seja, se a linha vazasse, vazava dinheiro, literalmente. Então esse problema foi a primeira grande dor de cabeça da minha vida. Não física, mas virtual, como eu falei pra vocês, eu não tenho dor de cabeça. E junto com esses alunos, depois um grupo cada vez maior, que chegou a ter em alguma...alguma época do projeto 50 pessoas, eu descobri o que que eram, na prática, todas as coisas sobre as quais eu tinha publicado paper, antes, a arquitetura do software, testes, engenharia, performance, segurança de aplicações, networking, gerenciamento de fibras, absolutamente tudo, só que na prática, dentro das condições contando da prática real, a gente entregou esse negócio, ficou funcionando [...]

[...] e aí eu entrei em uma profunda crise pessoal, que me levou a uma reflexão, também profunda, sobre tudo o que eu havia feito na minha vida até então, isso ao redor de 1998 ou 99. Se vocês olharem no meu currículo lattes, vocês vão ver que tem um buraco negro lá, no qual eu basicamente não publiquei nada. Porque eu peguei “paper” por “paper” que eu tinha publicado desde que eu tinha acabado meu doutorado, que equivalia dizer 10, 12, 13 anos, e sai vendo se aquele negócio funcionava na prática ou não. E pra minha não total surpresa na época, alguma coisa como 50% era lixo puro, se alguém tentasse usar na prática ia se ferrar. E eu não sabia até então. Então o que eu era? Eu era um professor de engenharia de software, só que da ciência da engenharia de software sem nenhum contrato com a prática, sem nenhum contato com a prática, sem nenhum contrato com a prática. Esse incidente desse sistema de um milhão de linhas de código no qual eu tive que ser o arquiteto porque eu não tinha conseguido criar as oportunidades de aprendizado para que meus alunos efetivamente fizessem o sistema sozinho, foi uma das coisas que mais me ensinou em minha vida toda, me ensinou que ciência e diferente de tecnologia, que o nosso propósito aqui, principalmente no mestrado profissional, é procurar quais são os problemas, quais são as oportunidades de resolver problemas e como é que a gente resolve problemas efetivamente na sociedade, na economia. Essa experiência se viu de guia, a partir de 98 ou 99 para todo trabalho que o CESAR fez, para todo trabalho que o meu grupo fez depois na universidade em reuso de software, em performance, segurança de aplicações na web, mais recentemente em redes sociais e é a experiência que serve de motivação e vez por outra eu tenho que [...]

[...] Lembro de mim mesmo em 96(7,8,9), quando a gente conversa sobre coisas no mestrado profissional do CESAR. O CESAR que é também uma instituição educacional,já teve,'tá' na 4ª turma de mestrado profissional, nós já defendemos , se não me engano, 15 dissertações. Eu tenho feito um esforço muito grande ,e nem sempre conseguido, mostrar para as pessoas que muito mais interessante do que a cabeça de cada um gerando problemas, que são importantes, mas que quase nunca são relevantes, são os problemas relevantes que já existem na economia e na sociedade ao nosso redor.E que nós da Universidade por um monte de razões, inclusive o fato do problema ser complexo,levar muito tempo pra tratar, de ter cliente.A gente tem medo de cliente na Universidade certo. Cliente é um embaço geral. O cara chega diz não, isso não é meu problema não, especificação não é essa não. Esse problema não é esse que você está estudando, é esse outro completamente diferente. Coisas que a gente não deveria ter medo quando a gente faz Tecnologia, mas de uma forma ou de outra atrapalha nossa carreira acadêmica. Resolver problema é muito mais complicado do que criar problemas fictícios e resolver dentro do contexto desse problema fictício, com os parâmetros que nós próprios achamos que são bons o suficiente, mesmo quando o negócio é Tecnologia. Quando a gente faz isso ,ignorou, volto a dizer eu to numa batalha tremenda dentro do CESAR, dentro da própria Universidade sobre isso. A gente acaba ,quando diz que trabalha em Tecnologia, mas desconsidera o comportamento do ambiente onde ela entrou, o ambiente que ela vai, a economia, o mercado, o cliente, as demandas do usuário, a gente faz o que se chama de Tecnologia sem cliente[...]

...Isso é muito pior do que fazer ciência ruim, ciência ruim é fácil de ser descoberta,porque você poe no crivo das teorias existentes ou das teses existentes, e você descobre imediatamente que não serve para nada, pode até continuar fazendo para lá mas não vou prestar a atenção nele. Tecnologia sem cliente é mais ou menos o seguinte: você trabalha 15 anos a fio na universidade e faz um tomógrafo, gasta algumas dezenas de milhões de reais de fundos e verbas publicas, forma,e... sei lá, 10 doutores e 30 mestres e quando está “tudo pronto” na prateleira, você olha para todo mundo ao redor , procura uma vitória e diz: Agora só falta quem fabrique!; no processo inteiro você nunca conversou com ninguém da cadeia de valor do uso, da fabricação, da distribuição da manutenção de absolutamente nada, e essa armadilha é uma armadilha muito fácil, Porque na academia nós conseguimos muito facilmente definir quais são os problemas que nós queremos atacar. Eu participei recentemente, isto foi no começo do ano passado, da definição dos grandes desafios nacionais da sociedade brasileira de computação, o único desafio prático, que ia melhorar a qualidade e a produtividade dos processos de desenvolvimento de softwares nas empresas brasileiras, esse foi um desafio puxado por mim e por outros dois professores de engenharia de software e pelas empresas da área , esse foi o único desafio que não foi atacado, porque ele é difícil, porque ele é um desafio real porque ele é um desafio de aumento de competitividade, ele é um desafio de inovação, ele é um desafio de tecnologia da inovação. Não existe na minha concepção ou, acepção da palavra, a idéia de inovação tecnológica o que existe são...

Tecnologias para ou como parte do, ou dos, processos de inovação. Peter Drucker costumava dizer que inovação é a mudança do comportamento de agentes como consumidores ou fornecedores de qualquer coisa no mercado, a mudança do comportamento dos agentes no mercado como consumidores ou fornecedores, essa definição não basta para tecnologia, não tem nenhum país que minimamente refletiu sobre qual é o valor da tecnologia nos negócios e qual é o papel da inovação nos negócios que tenha mantido a idéia de que existe alguma coisa chamada inovação tecnológica, nem de longe eu to querendo dizer que tecnologia é irrelevante para inovação, não, a tecnologia é absolutamente essencial, principalmente no nosso caso, nessa sala, em mundo todo feito de informática e todo de software se vocês quiserem fazer o teste eu desafio qualquer um aqui.

e que sejam meus votos que vocês abram rápido um doutorado profissional, nós estamos dispostos no C.E.S.A.R a abrir um doutorado profissional também, não há nenhum doutorado profissional no Brasil que eu saiba no momento, então primeiro nós temos que fazer uma associação aqui para vencer as barreiras da CAPES, isso é só um desafio a mais, e é isso que torna a coisa ainda mais interessante.
Fazer tecnologia por tecnologia vai dar boas teses e dissertações, mas não vai resolver nenhum problema, e hoje eu tenho certeza absoluta disso porque nós não estaremos fazendo as perguntas que são realmente relevantes sobre qual é o nosso papel na sociedade. E eu não estou falando do papel ingênuo na sociedade daqueles que muitos de nós, inclusive eu, declamaram nos nossos discursos de formatura. A gente se forma em informática e tem aquele discurso de formatura, que de preferência a gente sorteia algum inimigo para fazer e o cara vai lá e diz "prometo não dominar, não me deixar dominar pela máquina e não sei que". Já faz anos que eu corrijo de uma forma radical as notas, as provas dos meus alunos para dar nota ruim de tal maneira que eles nem me convidem para a formatura que é pra eu nao ter que ouvir essa babaquice de novo certo ? "Eu nao vou me deixar dominar pela técnica porque a alma não sei o que lá", isso é de uma babaquice inominável, primeiro por que como eu já disse antes, a humanidade é necessariamente técnica, os macacos todos se pudessem tavam usando técnica ad infinitum, os passarinhos usam técnica, os ratos os coelhos todo mundo, então nós não temos que sentar aqui e ficar dizendo, "não, porque tem a técnica aí que ta tentando dominar o mundo", nada disso, nós somos a técnica, nós estamos inventando e reinventando a técnica o tempo todo

[...] e é pra isso que existe a Universidade Tecnologica Federal do Paraná; que antes de ser Federal e do Paraná é Tecnologica, está no nome. Nós não precisamos ter vergonha disso. Isso é tecnologia pura. "Que é que você faz?" "Tecnologia." e olha de cima pra baixo pra pessoa, que é pra assustar. E de preferência cite umas duas ou três teorias que vocês inventem na hora. "'Holdworl Strombacks'(?) sobre a Incompatibilidade dos sistemas, versão sei lá o que com sei lá o que." As pessoas ficam apavoradas e não fazem a segunda pergunta. Isso funciona até pra conquistar namorada e namorado.
Não há porque ter vergonha disso [tecnologia]. Nós somos e estamos no domínio da possibilidade. Isso é intrinseco a nós. Não vamos fugir dessa sina ou desse destino. O nosso processo é construir esse futuro. E que futuro é esse?
Se levarmos em conta que o futuro vem do futuro. Aquela história que eu falei das escadas virtuais que estão por aí; derrepente a gente junta energia suficiente e salta de uma delas e aquele batente passa a fazer parte da nossa escada tecnológica. Isso é uma vitória importante, pois assim que chegamos até aqui. Mas o tempo todo estamos pulando para o desconhecido. Isso é assumir riscos. Criar possibilidades. Se assumirmos que o futuro vai ter muita informática nele, estamos no lugar certo.
Tem um estudo do Softex, (esse simulador da demanda de capital humano) foi publicado recentemente (se não me engano, na semana passada), que aponta pro fato de que em 2013 vão faltar algo em torno de 140 mil pessoas na nossa área. Isso é muita gente; 140 mil pessoas.
Pra termos idéia do tamanho do jogo, é o seguinte [...]

Todo ano, no Brasil, 240 mil pessoas prestam vestibular para todas as áreas de informática, 120 mil pessoas passam, 60 mil se matriculam, 30 mil se formam. Nesse ritmo, se não aumentarmos significativamente ou a quantidade de pessoas numa área, ou a qualidade e produtividade do nosso trabalho, iremos travar significativamente as possibilidades de desenvolvimento nacional.
Porque não vai ter oportunidade de você chegar em um lugar e dizer: "Olha, isso aí precisaria de software, mas não vai ser feito com software não... Porque tenho um negócio aqui, que acabamos de trazer da China, chamado abaco. A Paraná Abaco Company Xing Ling fornece abacos". Nós teriamos que começar a importar coisas da China e ensinar as pessoas a fazerem planilhas com abaco. É claro que isso é possível, o abaco é uma máquina de calcular universal, como todos sabemos. Com um algoritmo, coloca no abaco e manda bala... Inclusive, isso empregaria muita gente.
Mas o que deveriamos estar fazendo? Deveriamos estar fazendo outras coisas, por exemplo, quantos de vocês acham que existirão atendentes de callcenter em 2025? Eu acho que não terá um, nenhum atendente de callcenter, e sabem por que eu acho isso? Quantos de vocês conhecem pessoas que nasceram com a vocação inata de serem atendentes de callcenter? (risos do público) Nenhum conhece? Nenhum de vocês seria ou diria: "Bom, eu poderia estar fazendo mestrado profissional na UTFPR na área de informática, mas, o que eu quero mesmo da vida é ser atendente de callcenter, e to fazendo mestrado só por que a minha mãe quer!" (mais risos) Quem aí nasceu para ser motorista de ônibus?

Quem vocês acham que nasceu com vocação para ser motorista de ônibus? Absolutamente ninguém. E o quê a gente vai fazer? A gente vai informatizar os ônibus. A gente vai informatizar o callcenter também. Pra quem acha, ou pra todo mundo, aliás, não sei se vocês já viram uma demonstração da Microsoft, do que vai ser o próximo componente do Office. Tem lá Word, PowerPoint, Excel, etc., e eles têm um próximo componente do Office chamado “Laura”(http://www.metacafe.com/watch/1842509/microsoft_to_make_computers_humanistic_meet_laura_redmond/&/). “Laura” é um avatar, né, que pega a câmera do seu laptop ou PC, e mais o áudio e tenta entender você. Ele é capaz de coisas complexas, como assim, entender você num universo onde tenha outras três pessoas falando e saber o que você quer que seja feito, do tipo “...manda um e-mail para o fulano, diz para ele que eu estou ocupado, e não vou para a reunião hoje, então faz uma reserva pra mim num avião...”. Este é o próximo componente do Office, ou seja, tem gente sentada em Redmond, que está programando o fim da secretária. Mas você diz, pô o fim da secretária, coitada da secretária. Hum. Coitados dos escravos também, né. O estado está cheio de engenho de açúcar, hoje todos movidos a geração própria de energia elétrica, com bagaço de cana e outros produtos de origem biológica, e gerando inclusive energia para a rede. Será que a gente deveria voltar ao tempo dos escravos moendo a cana dos engenhos? E coitado dos escravos? Absolutamente, NÃO. Eu não to dizendo também, que a gente vai sair fazendo uma técnica sem alma. Não é que a gente precisa da alma na técnica. A gente precisa ter mais alma cada um de nós, e o nosso conjunto de atores na sociedade, mas que o aumento...

o aumento do uso da técnica em dispersão, em profundidade, em qualidade, em produtividade na sociedade é absolutamente óbvio. E não tem como fugir dele, tipo, uma tese.. uma dissertação de mestrado que eu queria que vocês fizessem, aqui, pra eu usar. Vamos pegar a definição do agente de mercado, eu, e vamos pegar com uma pergunta, de novo pra vocês: quantos de vocês, dentre os que usam óculos, trocariam um olho míope, como esse meu aqui que tem treze graus de miopia, por um olho biônico? Nenhuma pessoa, e se ele tivesse zoom infra-vermelho? Um bando de gente já. E se ele tivesse zoom, infra-vermelho, funcionasse como uma câmera de áudio e vídeo, fosse celular, estivesse conectado com um sistema de informação na sua conta na operadora, que tivesse inteligência artificial que desse o contexto de uma conversa que você está tendo agora e que daqui a há meses na frente tenha escaneado toda essa audiência e quando um de vocês chegasse pra mim num aeroporto, já que eu não vou reconhecer ninguém, porque eu sou míope, chegasse pra mim e dissesse: "esse é fulano ele estava la na plateia e ele não riu quando você contou aquela piada do olho", subliminarmente. Quantos de vocês trocariam um olho bom por esse olho biônico? Ah! Já apareceram uns candidatos. Se alguns colegas de sala de vocês no secundário trocasse, quantos pessoas vocês acham que trocariam? Todas. Absolutamente todas. Tem implicações éticas? Tem implicações éticas. Tem implicações morais? Tem implicações morais. Tem implicações filosóficas? Claro. Mas tecnologia por tecnologia não tem ética, nem moral, nem filosofia. A faca que faz sushi é

...é a mesma que mata. É o agente humano por trás dela que tem que ter considerações filosóficas, éticas e morais sobre o uso da tecnologia. Isso é tão importante quando nós estivermos desenvolvendo nossos trabalhos aqui, sentado na nossa sala de aula, ou em um laboratório, ou em casa, ou em uma empresa resolvendo um problema, quanto o problema em si, não é? Recife, e eu não sei se ainda é o caso aqui no Paraná, mas Recife é um dos lugares no Brasil onde o "Jogo de Bicho" ainda é tolerado. Aqui no Paraná tem Jogo de Bicho ainda ou não? Tem, não é? Mas em Recife tem mesmo, você pode jogar. Até dentro da universidade tem gente passando o bicho: vaca 25, não é? Então tem uma proposição que eu faço aos meus alunos de "História e Futuro da Computação" na graduação que é da discussão ética seguinte: se você fosse convidado para, você participaria ou não de um time de pessoas que iriam informatizar o Jogo de Bicho? Paguei, para aumentar a produtividade, para aumentar a segurança, pra aumentar... não é? Jogo de Bicho é uma coisa que existe, certo? É uma coisa de ampla aceitação social, é proibida também, uma contravenção. Você aceitaria ou não? Para a minha surpresa, 100% das pessoas topam, aí quando você diz: e se fosse para informatizar um ponto de distribuição de cocaína? Dizem "não, aí não, é cocaína, e não sei o que." Qual a diferença dos dois? Absolutamente nenhuma. Absolutamente nenhuma. Que nem um aluno que chegou pra mim pedindo consultoria. Na verdade tentando me contratar para dar consultoria sobre a informatização de um caixa 2 da empresa em que ele...

trabalha,então eu disse :“Cara”, mas isso é ilegal, não é? Isso é uma contravenção, ta aqui, porque fui atrás de uns documentos da Receita Federal, mostrei pra ele, e ele disse: “Professor, mas isso faz parte do meu trabalho”. Eu disse: Tá bom, amanhã o “cara” vai chegar pra você te dar uma “doze” dizer o seguinte: faz parte do seu trabalho também você pegar aquele cobrador que vem ali e dar dois tiros de “doze” e abrir um buraco desse tamanho no peito dele, você faz ou não faz? Ele disse: “Professor aí você está querendo radicalizar.” Então essa discussão sobre tecnologia começa nos problemas da sociedade, e resolver os problemas da sociedade tem uma discussão também profunda sobre os “como”,sobre os “que”sobre os “contextos”e sobre os “porquês” ,para gente fazer mesmo sabendo que se a gente não fizer , alguém vai fazer ,mas temos que ter a oportunidade e a determinação (criar em cada um de nós ) de fazer uma reflexão, se deveria ou não deveria fazer aquilo, né?Eu sou um dos que não acha, por exemplo, que tem gente por aí com vocação para ficar atendendo telefone em um call center, e eu acho que a gente vai informatizar os call centers, e eu acho que isso é bom pra humanidade como um todo, porque as pessoas que estavam no call center, ou as pessoas que estariam nos call centers no futuro vão fazer outras coisas muito mais criativas, na verdade pra acabar o que já parece um longo discurso e oferecer para todos a possibilidade de vocês descordarem (se possível) de mim,eu acho que a penetração de tecnologia dentro da sociedade através dos tempos tem sido na direção de liberar e libertar os seres humanos pra eles façam coisas que só eles podem fazer que é ...

É pensar, é realizar ações de criação de alta ordem, eu não to simplesmente que nem uma formiga descobrindo o caminho pra arvore mais próxima que tem as folhas que eu gosto, eu to redesenhando as arvores que eu gosto, eu to reescrevendo o mundo ao meu redor. Esse é um universo que se abre pra nós de tenologia a qualquer momento, entao, no meio desse processo, sempre que tem pessoas que estão fazendo coisas que nós não queremos fazer, mais cedo ou mais tarde nós vamos transformar o trabalho daquelas pessoas em software, em hardware e em sistemas de informação. E isso é o seguimento, essa é a histora, esse é o futuro natural das coisas. Pra acaba mesmo eu acho que no processo de fazer uma pos-graduação, e eu não sabia disso quando eu comecei, e também ninguem me avisou, e eu vim descobrir muito tempo depois, acho que o mais importante de uma pós-graduação não é o trabalho em particular que vocês vão estar fazendo, eu nunca achei que era depois de ter 10 anos de experiência orientando pessoas. O importante numa pós graduação é aprender a aprender. E aprender a aprender é uma coisa que você não sabe. Se você pega um histórico dos esforços extremos da humanidade, infelizmente na maioria das vezes associados a guerra, você vai ver que pessoas que não fazia a menor idéia de construir radar, construiram radar, pessoas que não fazia a menor idéia de como fazer uma bomba atomica, construiram uma bomba atomica. Pessoa que não fazia idéia de como fazer isso, aquilo e aquilo otro, num ambiente de pressão extrema aprenderam a aprender os essênciais e os práticos daquela...

...técnica daquele conjunto de tecnologias para realizar aquele conjunto de atividades, ou de funções, ou de objetivos. Entender, no nosso universo aqui, ou discutir, ou procurar, ou formular a pergunta vai ser sempre mais importante do que descobrir a resposta. Se a gente souber qual a pergunta a resposta é trivial, todo mundo sempre sabe... né, feito a pergunta todo mundo sabe qual é a resposta. Eu criei anos atrás, principalmente, para as minhas cadeiras de graduação onde os estudantes estão ainda mais atentos e menos sincronizados um método que meus estudantes, talvez, de forma pouco apropriada, batizaram de terrorismo pedagógico (risos) que é um método esquizofrênico e inconsistente de dar aulas que é mais ou menos o seguinte: vamos imaginar que isso aqui fosse a aula um, na aula um eu explico como é que o método funciona e digo o que que é que vai acontecer na aula seguinte, na aula seguinte nos debateremos os capítulos um, dois e três do livro tal. Se não tiver perguntas relevantes feitas pela platéia, tem prova. Então eu não dou aula, eles vão pra casa lêem e tem o debate, curiosamente, nunca tem prova. Os estudantes estudam que nem o cão para não fazer prova (risos) que era muito mais fácil. Estudam pra cacete ai chega lá e diz assim: se não fizer pergunta eu me noivo, vai dar uma prova e a gente acerta tudinho. Mas não, tem um mega debate na aula porque todo mundo enlouqueceu de estudar. Tem variações do método né, então aula pós aula, por exemplo, eu não aceito perguntas de menos alunos nem perguntas com menos vieses e assim por diante que é pra provocar esse problema da pergunta que no meu entendimento é o que separa os bárbaros dos civilizados os bárbaros são os povos , os subdesenvolvidos são...

Povos que sabem qual é a resposta, não conseguem nem refletir sobre ela, os civilizados são aqueles que não só, sabem qual é a pergunta, mais se não souberem, sabem como procurar e descobrir qual é a pergunta. Para vocês todos que estão aqui começando hoje, todos os outros que estão aqui, eu desejo é que vocês sejam uma vida inteira como esta instituição é, um vida inteira de perguntas e de desafios. Obrigado, boa noite. Obrigado. Como eu disse, antes de eu me transformar numa abobora, e pegar o avião para ir jantar com a minha mulher e meu filho em Recife, que é de onde eu sai hoje as 02h30min da manha, é a gente tem 15 minutos de debate, ouvinte. Quem se arrisca? Professor falou ai em tecnologia com a finalidade de simplificar as coisas, de liberar o ser humano para atividades mais criativas, porem se a gente olhar as sociedades primitivas que vivem da caça e coleta, esse pessoal já tem um nível para atividades criativas. Por que a gente tem que primeiro complicar as coisas, criar todo um mundo tecnológico, para depois simplificar? Eu concordo com sua pergunta...

é provocação extremamente boa, se a gente voltar ao esquema de caça e coleta onde todo mundo tem uma vida muito simples, a gente teria que eliminar 6 milhões de pessoas no planeta Terra, se a gente voltar para caça e coleta, só dá para rodar com 500 milhões de pessoas, eu não acho a eliminação de 6 milhões de pessoas um método razoável para a gente simplificar o mundo, por isso a gente tem que arranjar meios de tornar a vida desses 6 milhões de pessoas, talvez mais de 6 milhões de pessoas hoje que não adotam caça e coleta numa coisa mais simples, por exemplo, vamos pegar trafico, transito e engarrafamento, certo, vamos pegar essas três palavras que se reduz numa só, caos urbano, por que quê a gente não informatiza literalmente os carros, já que a gente não vai conseguir elimina-os por que quê a gente não elimina os sinais de transito, bota os carros informatizados numa malha viária informatizada e a malha controla os carros, certo, uma forma também local, conjuntural ou etc, eu duvido que nos próximos 300 anos a gente elimine totalmente o meio de transporte pessoal e volte para floresta local, onde por exemplo, hum sei lá, remanescentes 2 ou 3 milhões de pessoas estão dispostas a comer o que tem ali agora, que é carne de macaco, se no meu tempo caçava, sou um individuo sensível há sangue, meu pai queria que eu fosse médico, era o sonho da vida dele, eu disse bem que não tinha chance, eu não gosto de sangue, até bife gosto bem passado, então não tem chance , meu irmão mais novo virou médico então nesse contexto de simplificar a vida e mais ou menos aquela piada do pescador do mediterrâneo, o cara vê lá o cara pescando o atum diz: “Cara que atum maravilhoso, a gente podia montar uma companhia de pesca, não sei que lá, pegar investimento, pegar trinta e tantos navios"

Aí o sujeito está lá, olhando, e uma hora ele chega: "Para quê isso?", "Ora, para você ter tempo para pescar por esporte", "Mas é isso que eu faço". Eu acho que essa pergunta não se aplica no sentido particular da filosofia de Lévy, da humanidade, do virtual construído por abstração. Até por ser a abstração uma técnica, e no próprio processo de evolução da humanidade nós fomos agregando níveis e níveis de técnica que nos dão o status que nós temos hoje. O qual aliás é absolutamente primário, não é, no meu entender. O fato da gente não ter saido ainda do planeta ainda, quer dizer, nós estamos aqui a 205 mil anos, os hominídeos. Estamos aqui há 205 mil anos nessa bagaça aqui, o sol vai explodir daqui a algumas centenas de milhões de anos e a gente ainda não tem uma forma de abandoná-lo. Então não tem, no meu entender, 0,001% da tecnologia que a gente deveria ter. Então tá na hora de alguém dizer para mim "Olha, beleza"... meu filho, Pedro, diz - hoje tem 8 anos, mas quando ele tinha 7 anos de idade ele viu um programa do discovery mostrando que o Sol iria explodir e que o universo ia pro espaço. Ele entrou em depressão profunda; que tudo iria se acabar. Eu disse "Meu filho, mas isso será daqui há não sei quantas centenas de milhões de anos", e quando ele ouviu "centenas de milhões de anos", para ele era segunda-feira. Segunda feira tudo iria para merda! E ele ficou inconsolável. Do ponto de vista da civilização, como é que justifica a gente estar aqui a 200 mil de anos; há 15 mil anos com história escrita; há 500 anos fazendo tecnologia a partir, por exemplo, da impressora de Gutenberg; há 250 fazendo sistemas com algum nível de energia, vapor, sei lá, que diabo for; com 50 anos de energia nuclear e a gente ainda não descobriu como é que a gente abandona esse planeta que vai afundar de qualquer jeito. Estamos no zero. Total.

[...] Pergunta da platéia - "Sílvio, você falou dos operadores de telemarketing e eu concordo, é um trabalho muito complicado. Concordo também que daqui a 15, 20, 30 anos a gente vai ter tecnologia pra substituir esses operadores por máquina, software, reconhecedores de voz e respondedores de perguntas. Mas a tecnologia vem, e nos auxilia a ser mais produtivos, e cada vez a gente é mais produtivo. Hoje trabalhamos com nossos computadores, nossos softwares, nossos 'switchs' de produtividade, 10 vezes mais do que a mesma pessoa a 30, 40 anos atrás. Só que as pessoas que não vão ter esse emprego de telemarketing, elas teoricamente teriam que ter tempo pra pensar em uma outra oportunidade. Só que o mundo capitalista obriga que cada vez se produza mais, então hoje eu produzo 40 vezes mais, tiro o emprego de 39 pessoas, e daqui a 30 anos, a tendência é que cada vez tenha menos gente com menos emprego e pouca gente com muita produtividade fazendo tudo o que precisa ser feito, e este pessoal que não está com esse emprego, que é um subemprego, vai ficar sem emprego. Como é que você vê isso?"
Sílvio - Sua argumentação é totalmente coerente, mas está completamente errada. Veja, pegue 5 mil anos de evolução da tecnologia. Dos egípcios pra cá. Não vamos esquecer, por exemplo, que as idéias fundamentais de matemática foram desenvolvidades pelos egípcios pra cobrar imposto. Era pra simplificar a vida do cobrador de imposto. Ao invés de estar saindo com um triângulo ou um quadrado fazendo marcas e contando quantos quadrados [...]

...quantos covos tinha um terreno, e colocava 2 marcas e fazia um certo triângulo, e calculava quantos triângulos tinha dentro daquele negócio, quantos quadrados tinha. E a idéia inteira de área na matemática foi desenvolvida para economizar tempo, ta certo, hoje como você faz uma topografia? Antigamente os estudantes de engenharia, aqui mesmo na UTFPR, ficavam lá olhando o Teodolito e passava um carro, e não sei o que é, aquela bagaça toda, um embaço geral, o cara perdia a manhã todinha, pegava insolação e calculava tudo errado, hoje se pega o negócio com laser e GPS e... calcula a área, volume, altitude, diz aonde é que ta o escambal, e a vida das pessoas não piorou por causa disso, se você olhar a evolução, por exemplo, da tecnologia têxtil, na época em que Jacquard na França, no fim do século XVII e início do século XVIII, ele desenha o que vem a ser o primeiro cartão perfurado, que não é da era da informática, é da era têxtil, do início da automatização da indústria têxtil, não só ele desenha os padrões do tecer no cartão, mas cria os mecanismos de movimento e processamento do cartão que automatiza aquele negócio, e imediatamente você pega pessoas que passavam lá o dia todinho do tear manual, ta certo, se destruindo fisicamente, e você torna aquelas pessoas como a gente diria, e o termo em inglês é esse: redundantes, para aquele trabalho! Não há ninguém que você conheça hoje que queria fazer o trabalho de tear manual a não ser como arte, e com um valor agregado, que você está disposto, que enquanto você está disposto a pagar 100R$ pelo, hum, seilá, pelo 1m² de tapete industrial, tem tapetes manuais, feitos em n países e aqui no inteiro do Brasil, em vários lugares, que valem: 1.000, 10.000, 50.000 R$, 1m² de tapete feito manualmente, então na hora que você modifica, que a tecnologia modifica esse negócio, que você tira o homem como força e você põe o homem como mente literalmente você tira...

..do tear manual , para fazer uma camisa preta que nem essa que eu to aqui, e você põe ela pra fazer arte, você magnifica também o retorno do investimento da pessoa que ta fazendo aquilo. Em todas as épocas na história da humanidade quando você introduziu tecnologias , você também criou o programa de transição das pessoas que estavam fazendo aquilo naquela época. Não vamos esquecer que a, o maior contingente de pessoas da nossa laia, há 20 anos atrás, 1990 esse negócio começou acabar, era de digitadores. Digitar cartões, é uma fabrica de lesão de esforço repetitivo se você tentasse reintroduzir isso na sociedade de hoje, olha, acabou esse negócio de código de barras, tem que digitar de volta, porque precisamos gerar emprego, isso seria proibido pela justiça do trabalho e pelos códigos de ética médica. Porque é simplesmente você catar o cara e depois de 2, 3 anos de trabalho, ta todo mundo assim né! Então, eu não vejo uma tensão entre essas duas coisas, o que eu vejo é uma direção inarredável e imutável que vai levar todos nós para uma situação onde nós só vamos executar o que é chamado na psicologia cognitiva de funções mentais superiores, que é identificar e resolver problemas. Se você não estiver fazendo isso, ou não estiver estudando para fazer isso, principalmente para o pessoal aqui que é mais novo, vocês estão desempregados. Depois não digam que eu não avisei! - Professor, uma pergunta mais pontual, o Sr. não vai saber dar um numero preciso mas pode ser seu sentimento mesmo. Qual é o grau de satisfação, dos alunos do seu mestrado, da equipe do seu mestrado e das empresas envolvidas no seu mestrado ?. -Aí vareia, Aí vareia, eu participo...

[...] duas pós-graduações: a do CESAR e a da Universidade, cada uma tem seus objetivos, é..., o mestrado profissional, as pessoas que fazem o mestrado profissional e fazem a do CESAR, que é uma entidade paga, custa 18 mil reais para você fazer um mestrado lá, elas escolheram o CESAR,( pequena pausa ), escolheram por um certo conjunto de razões, e agente tem uma nota que varia entre 8.5 e 9.5 de todo mundo que já fez. Esse mestrado profisional é feito com um conjunto de empresas, uma parte pela empresa do grupo CESAR que tem variados graus de satisfação, eu acho que agente não conseguiu "catracar" completamente ainda a idéia do mestrado profissional com o mercado, porque a empresa acha que o "cara" esta indo para lá, só para resolver o problema mesmo!Mas não é isto que nós estamos fazendo no mestrado profissional, primeiro na minha opinião, nós estamos aprendendo a aprender enquanto resolvemos o problema.Você nao faz uma coisa com ON e OFF, vou lá..resolvo e saio, é..., eu vou lá; ajudo; participo do processo de solução do problema, à medida que eu crio um profissional que mudou seu nível de competência, de resolução de problemas para identificação e apreendizado dentro do processo de solução de problemas, aí agente cai em "inovathi", criar oportunidades de apreendizado em um nível mais alto.Então.... no caso dos alunos do CESAR que são aqueles pelos quais eu tenho avaliação, os alunos dão notas para nós entorno de 8.5 e 9.5.As empresas variam, tem empresas que acham muito legal, e a maioria das empresas que acham que não foi tão legal assim, são aquelas que queriam que agente tivesse resolvido mais rápido, pensando só no problema etc..etc..etc..Porque tem um viés ainda no Brasil, que agente tem empresas muito pouco inovadoras.A empresa brasileira por estar restrita na maioria das vezes, compete no mercado nacional[...]

(...) tradicional, e principalmente no caso de mercados periféricos, como o nordeste, ela competir num mercado que é quase fechado e cativo dela, ela não tem muita preocupação em fazer um trabalho mais inovador que aumenta o grau de sustentabilidade como diferenciação da empresa em longo prazo. No caso da Universidade Federal, o mestrado profissional lá, ele é mais uma forma de mimetizar um mestrado acadêmico para profissionais. Ele não é, no meu entendimento, profissional no espírito do mestrado profissional mesmo. São profissionais que fazem o mestrado, mas da mesma forma você tem um número muito grande de profissionais no mestrado acadêmico, e no fim você vê que não tem muita diferença um do outro. Que é um risco que você corre, principalmente no ambiente de uma instituição federal como esta aqui, que derepente submetido a crivos e avaliação de CAPES e CNPq, que são parecidíssimos, é você tentar emular um mercado acadêmico dentro de um mestrado profissional como forma de sobrevivência institucional. E aí você mata o mestrado acadêmico no processo. O C.E.S.A.R não precisa fazer isso, porque no caso do C.E.S.A.R. o mestrado profissional é um bussiness, e de uma certa forma as regras da CAPES interferem muito pouco. O que interfere é a satisfação do consumidor; a gente estar resolvendo um problema que nos propomos a resolver. Claro que vai ter avaliação daCAPES, isso, aquilo e aquele outro. Mas eu acho que em alguma hora, no Brasil, vai acontecer coisas como você ter mestrados profissionais que tem uma reputação e uma marca na indústria e no mercado, literalmente, muito maiores que o crédito que lhes dá os mecanismos oficiais de avaliação de performance. E a getne aí vai separar as coisas; o que o mercado acredita que funciona e o que a Academia...

(...) acredita que funciona, e cada um vai ter seu lugar. Atualmente eu vejo assim, o ambiente muito confuso. Mais alguma pergunta, talvez a última? Lá!
- Sílvio, eu gostaria de perguntar pra você, já que você citou que esta área está meio confusa, no sentido do mestrado profissional e o mestrado acadêmico, como que a CAPES e o C.N.P.Q aceitam a publicação científica de vocês? Como eles enxergam isso? Já que pra sociedade, para as empresas, isso é de grande valia - num país de grandes mazelas como o Brasil -, isso vai de encontro aos problemas, e resolve e tudo o mais, por outro lado no sentido acadêmico isso não é muito bem visto, eu creio. Como você analisa isso?
Sílvio: Eu não estou nem aí! Eu não estou nem aí. O C.E.S.A.R. foi a primeira instituição não-educacional do país a ter um mestrado profissional autorizado pela CAPES. Isso foi uma batalha de um ano e meio, gente da comunidade contra, a favor e não sei o que lá, porque não podia, porque não tinha uma graduação baixo, etc. etc. etc. Tudo contra. Mas no fim a gente acabou provando que a gente entendia o suficiente de problemas e de processos de criação de oportunidades de aprendizado, em particular o nosso mestrado profissional "Problem-Based Learning" (Aprendizado Baseado em Problemas, dentro do ambiente real onde os problemas ocorrem). E a gente ganhou o crédito de poder fazer a tentativa de criar uma pós-graduação profissional. Existe um conflito absolutamente claro no negócio de um mestrado profissional - eu falei aqui no começo que o mestrado profissional não é um mestrado amador, o slogan...

[...] do CESAR sobre o profissional do CESAR é “Aprenda com quem faz”. O cara que está na rua, fazendo arquitetura de software (segurança e performance em aplicações) ele não tem tempo, e às vezes ele não tem interesse porque o custo e a oportunidade dele estar escrevendo não faz sentido, ele pode estar ganhando mil reais por hora de consultoria, você pega um dia de consultoria e põe cinco, sete, oito mil reais no bolso.
Ele não tem dias e dias pra estar escrevendo um paper sobre o que ele descobriu, até por que certas horas não é de interesse, e ele não consegue catracar nas conferências, nas agendas acadêmicas o que ele esta fazendo. Eu acho que alguma hora a gente vai nascer desse útero de gestação da atual graduação brasileira, eu vejo hoje, alunos de graduação que entram na universidade e fazem uma pesquisa no currículo básico dos professores e mandam um e-mail (eu sempre tenho uns oitenta) para os cinco que mais publicam e dizem "Professor, quero ser seu aluno de iniciação científica...”, isso é no primeiro período "...porque eu quero começar minhas publicações pra ir pro mestrado.", quer dizer, o cara não foi pra universidade pra estudar, ele foi para publicar coisas.
Isso é um claro desvio ótico e filosófico de como é que os sistemas de processo de ensino deveriam funcionar, porque a gente tá totalmente baseado por avaliação hoje, na minha opinião, no efeito colateral que a geração da publicação, a maior parte delas, totalmente irrelevante. O Brasil tem um número gigantesco de publicações de relevância extremamente duvidosas, inclusive as minhas, estou dentro do sistema, estou falando aqui como sujeito, não estou criticando os outros. Porquê? Porque se a gente não faz isso, o sistema vem e monta encima de você e exclui. Então ao invés de se sentar, por exemplo como o cara que me orientou no doutorado na Inglaterra, ele tinha na época que fui ser aluno dele, três papers publicados. [...]

...cada um deles havia mudado a história da área. E daí pra frente ele não publicou muito mais a respeito, eu acho que ao todo ele tem oito papers, porque o sistema inglês permite isso, permite que a pessoa que mudou uma área inteira possua somente aquele paper.
- Ah, aquele é Fulano que escreveu aquele paper.
No Brasil não, você pega um comitê qualquer de meninos que acabaram de terminar o doutorado:
- Beltrano já publicou cem papers, mas nos últimos dois anos só publicou quatro. 
Corta a bolsa de pesquisador dele   e manda ele pastar em alguma... sei lá... 
mato, em algum lugar.
Mas neste ponto em particular, alguma hora nós iremos acordar, sabe, isto é uma mistura de delírio com sonhos fáceis, mas que alguma hora nós levaremos um choque da realidade e acordaremos. Eu sou muito otimista em relação a esse futuro próximo. Até porque, temos um número muito grande de pesquisadores relevantes acordando, e transformando sua capacidade de aprender em resultados que são importantes para os negócios. Eu acho que, por exemplo, a sequencia de descobertas do Galembeck na área de química da Unicamp, irão o transformar no primeiro pesquisador brasileiro bilionário, sem excluir a capacidade dele de aguentar pessoas e publicar papers. Não sei se vocês prestaram atenção neste evento recente, dos últimos dois anos, o Fernando Galembeck da Unicamp, um pesquisador da área da química, descobriu como fazer tinta branca a partir de princípios básicos. Está é uma descoberta de nível mundial, porque tinta branca para pintar parede, é feita com a mistura de tinta de outras marquises. Então o Galembeck descobriu como fazer tinta branca, a partir de princípios básicos que geram apenas tinta branca. Essa descoberta deve colocar no bolso dele, nos próximos vinte anos, algo próximo de um bilhão de dólares. Então na hora que deixar de ser proibido ganhar dinheiro com o que você sabe, um bocado de gente vai começar...

...para ganhar dinheiro com o que sabe, e resolvendo problemas gerais apartir de perguntas que existem e estão na esperança de serem feitas pela comunidade, e aí veremos um bocado de professores universitários indo dar aula de BMW, de Mercedes S, e as pessoas ao redor descobrindo que conhecimento vale dinheiro na economia do conhecimento, que no caso do Brasil, nós ainda não tivemos este snap... está faltando entender que na economia do conhecimento, o conhecimento tem valor econômico... em particular, eu já vou dar aula com a minha BMW... (risos) ...é 93, mas é BMW... (risos) ...isso na realidade é uma piada interna da comunidade de computação, porque eu comprei esta BMW do Nivio Ziviani quando ele vendeu uma máquina de busca para o UOL... qual foi a máquina de busca que ele vendeu (tentando lembrar)... e depois que ele vendeu esta máquina de busca para o UOL lá atrás, ele comprou uma BMW usada, e depois fez uma outra máquina de busca e vendeu para o Google , e aí ele ficou milionário, ganhando muitos milhões de dólares com isso, e quando colocou a BMW 93 dele à venda por 25 mil reais, (uma fortuna não é) aí eu comprei, porque eu acho que é um amuleto e que alguma hora vou fazer alguma coisa e ficarei milionário também... (risos) ... mas pelo menos eu tenho, assim, um aporte de dizer quando perguntam: Com que carro você vai dar aula? Eu vou dar aula de BMW... (risos) ... 325i... (risos) ... pessoal, muito obrigado, vou ter que ir embora, foi um prazer... (palmas)